baden powell: músico brasileiro

id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529532700354787234" />No final do programa, como de costume, o locutor fez as chamadas para a semana seguinte, e qual não foi a surpresa do menino ao ouvir seu nome entre os calouros que iriam se apresentar no próximo domingo. E com um nome como seu, Baden Powell, havia pouca chance que se tratasse de outro. Ele tinha dez anos e a idéia de inscrevê-lo foi do seu professor de violão Meira. O concurso ‘Papel Carbono’ cuja regra, como indicado no nome do programa, era imitar um grande artista e tinha que tocar como se fosse o próprio. Baden transformou-se no grande violonista Dilermando Reis e o público, fascinado ao ouví-lo tocar ‘Magoado’ deu-lhe o primeiro lugar como solista de violão.

A música era uma velha conhecida na família. Seu avô, Vicente Thomaz de Aquino, era um intelectual, fora o primeiro maestro formado no Rio de Janeiro e fundara, ainda no século XIX, uma Orquestra Negra composta de escravos chegando a se apresentar no elitista Teatro Municipal. Thomaz de Aquino era muito próximo de José do Patrocínio, e se envolvera na luta abolicionista, como militante da causa negra alfabetizava-os preparando-os para a libertação. Seu pai, Lilo de Aquino, mais conhecido como Tic, animava os bailes com seu violino em uma fazenda de café na cidade de Varre-Sai, também era chefe de escoteiros na cidade e devotava a maior admiração pelo britânico Baden Powell, fundador do escotismo, a quem homenageou dando o seu nome ao filho; tocava tuba na banda da cidade e era sapateiro, não de consertar calçados, mas de criar modelos.

Baden Powell cresceu em meio à música. Seu pai tocava seu violino na rua, nos bares e nas praças. Havia também as serenatas e as rodas de choro organizadas pelo pai e que Baden ouvia fascinado atrás da porta. Acordava ouvindo o hino francês do relógio materno impregnando-o da cultura que mais tarde adotaria. Quando ganhou um violão, aos oito anos, demonstrou facilidade em tocá-lo e em um ano seu pai havia lhe ensinado o que sabia, portanto chegara a hora de providenciar um verdadeiro professor. E assim, foi contratado Jaime Florence, mais conhecido como Meira que também o iniciou no violão clássico. Passaram-se cinco anos, no final dos quais, Meira avisou que não tinha mais nada que ensinar a Baden Powell. O aluno sabia mais do que o mestre. E Baden se inscreveu na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro, iniciando o aprendizado da teoria musical, da história da música, da harmonia, da composição e aprender o repertório dos grandes mestres.

id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529532919191566578" />A essa altura, sua mãe não entendia por que ele estava tocando uns ritmos estranhos, uns acordes horríveis. Baden já estava firmando sua personalidade como intérprete, criando os seus harpejos característicos e acordes sofisticados. Ao mesmo tempo, ouvia outros estilos musicais e novos ritmos da moda, importados dos Estados Unidos. Além de corresponder ao seu gosto musical, e ao de sua geração, o jazz, com o bebop, o swing, o fox-trot eram os ritmos preferidos nas festas e bailes onde ele tocava. Nessa fase de adolescência, já se revelavam as diferentes facetas de sua personalidade musical e sua incrível versatilidade: o concertista que tocava Bach na igreja, o chorão que agora comandava as rodas de choro, o guitarrista de jazz dos bailes, o sambista nas batucadas nos morros onde vivia o seu lado malandro. Baden gostava desse ambiente marginal.

Com quinze anos e uma autorização das autoridades, Baden estreou sua vida de músico profissional nos prostíbulos e descobriu um mundo novo, gente da noite. Foi nessa vida da noite que começou a beber e fumar. Na década de 50, a música da moda nas classes média e alta era o jazz um dos estilos musicais que Baden Powell mais prezava. Os músicos que acariciavam os ouvidos da platéia, com seus improvisos jazzísticos, eram, na sua maioria, os mesmos que a partir de 1958 se tornariam os músicos da bossa nova. Um dos lugares mais freqüentados era o Hotel Plaza, um lugar aconchegante, onde as pessoas iam tomar um drinque, conversar e escutar jazz. E onde nasceu o ‘Ed Lincoln Trio’ com Baden Powell no violão. E o local tornou-se um ponto de encontro de futuros grandes músicos como Tom Jobim e João Gilberto já cheio de complicações. Ficava esperando o intervalo, porque não queria entrar na escuridão. Aos dezoito anos, Baden era músico de estúdio, contratado pela Philips, e tocava tanto nos discos de artistas importantes como nos dos estreantes. Em 1959 o diretor artístico resolveu gravar um disco com Baden. O primeiro disco solo ‘Apresentando Baden Powell e seu violão’ ficou pronto com um repertório absolutamente eclético: músicas latino-americanas, clássicos do jazz, músicas brasileiras e ‘Samba Triste’, sua primeira composição.

id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529533283446167170" />A bossa nova já estava bem implantada e não havia horário para ela, de noite ou de dia, sempre havia um lugar aonde ir com um violão. E Baden Powell freqüentava quase todos. Bossa nova que nasceu do dedilhar de músicos formados nas universidades, cultos e informados que conheciam música clássica, o jazz, a chanson française, a american song, e que possuíam suas próprias raízes: o samba, o choro. Exatamente tudo aquilo que o próprio Baden Powell é. Mas, ele nunca pertenceu a nenhum movimento, ele nunca se ajustou a nenhum molde, nunca seguiu nenhuma orientação e, sobretudo, nunca se limitou a um gênero. Na década de 60, continuou a percorrer todos os ritmos, inclusive da bossa nova, mas com um estilo infinitamente pessoal e original. Participou de suas manifestações, dos shows universitários que a implantaram e também tocou em discos rotulados de ‘bossa nova’. Contudo, jamais se sentiu um músico bossa nova, tanto que nunca foi considerado pelos pesquisadores brasileiros, como sendo um dos integrantes da bossa nova. Isso porque a principal característica de Baden Powell é ser Baden Powell, e ponto final.

Em 1961, gravou o segundo disco ‘Um Violão na Madrugada’. Em 1962, conheceu aquele que se tornaria o seu mais importante parceiro e companheiro de farra: Vinicius de Moraes. E nasceu assim uma forte amizade que com seus altos e baixos só a morte de Vinícius interromperia. Dois imensos artistas, profundamente marginais, sem preconceitos, arredios às regras preestabelecidas, aos moldes, às modas. O que mais encantava o diplomata poeta eram as raízes suburbanas de Baden, regadas a samba e choro e moldadas pelos mestres Pixinguinha e Meira, e na malandragem dos morros. E caiu de amores pelo violão cheio de ginga, de negritude, de raízes. A bebida já fazia parte da vida do violonista suburbano, mas no luxuoso e burguês do novo parceiro, descobriu o uísque escocês. Entre uma composição e outra, as garrafas iam se esvaziando, os cinzeiros se enchendo e a noite avançando. Dessas noitadas resultaram pérolas musicais.

id="BLOGGER_PHOTO_ID_5529533504119141202" />Baden Powell que logo depois visita a Bahia demonstra interesse pelas tradições afro-baianas e é levado às rodas de capoeira onde são interpretados para ele os cânticos e sons dos terreiros de candomblé. Baden fica fascinado pela beleza das harmonias. Ao se reencontrar com Vinicius compõe o samba ‘Berimbau’ e resolvem iniciar uma série de canções sobre a cultura afro-brasileira e assim surge o disco ‘Os Afros Sambas ‘, e uma nova modalidade musical: o afro-samba. Disco antológico onde se misturam instrumentos do candomblé: atabaques, bongô, agogô e afoxé com outros da música tradicional como flauta, violão, sax, bateria e contrabaixo. Ainda em 1966 o seu álbum ‘Tristeza on Guitar’ foi sucesso internacional. Em 1967 foi entusiasticamente aplaudido no concerto ‘Berliner Jazztage’ na Alemanha onde viveu por quatro anos. Em 1970 iniciou sua primeira turnê pela Europa e Japão, mas teve sérios problemas de saúde e em 1983 mudou para Baden-Baden onde viveu em retiro. Em 1988 voltou ao Brasil e gravou o álbum ‘Rio das Valsas’. Morreu em 2000 no Rio de Janeiro. (o livro que recomendo 'O violão vadio de Baden Powell' da escritora e jornalista francesa Dominique Dreyfus foi a minha fonte)

baden powell - apelo


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Os Afro Sambas (1966)    |      Personalidade (1993)

Tracklist: Os Afro Sambas
01. Canto de Ossanha 02. Canto de Xangô 03. Bocoché 04. Canto de Iemanjá 05. Tempo de Amor 06. Canto de Pedra Preta 07. Tristeza e Solidão 08. Lamento de Exú

Tracklist: Personalidade
01. Viagem 02. Das rosas 03. Apelo 04. Chão de estrelas 05. Consolação 06. Carinhoso 07. Garota de Ipanema 08. Eurídice 09. Samba triste 10. Lamento 11. É de lei 12. Tempo feliz 13. A lenda do Abaetê 14. Deixa

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O Universo Musical de Baden Powell (2003)
CD 1: parte I    parte II
CD 2:
parte I    parte II

Tracklist CD 1
01. Berimbau 02. Garota de Ipanema 03. Deve Ser Amor 04. Samba Triste 05. Jesus Alegria dos Homens 06. Folha Morta 07. Formosa 08. Vou Deitar e Rolar 09. Dora 10. Ingênuo 11. Pai 12. Maritima 13. Choro para Metrônomo 14. Mais Ne Rigole Pas

Tracklist CD 2
01. Xangô 02. Samba do Avião 03. A Primeira Vez 04. Eu Vim da Bahia 05. Feitinha pro Poeta 06. Canto de Ossanha 07. Saudades de Marcia 08. Round About Midnight 09. Asa Branca 10. Samba em Prelúdio 11. Samba do Pintinho 12. Coisa Nº 1 13. Discussão 14. Amélia 15. Samba da Bênção

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publicado por mara* às 11:29 | link do post | comentar | ver comentários (9)