alberta hunter

Alberta HunterAlberta Hunter é uma das lendas do século 20, e tinha uma vida muito intensa e mostra isso na sua maneira de cantar. Suas gravações de jazz e clássicos do blues são simplesmente incríveis. Ela foi uma cantora pioneira cujo caminho cruzou o jazz, o blues e a música pop. Ela fez contribuições importantes para todos esses gêneros e teve uma carreira que sobreviveu seis décadas. Viajou extensivamente por conta própria a partir de 1925, quando ela comprou uma passagem para a França. Alberta Hunter foi um das primeiras cantoras negras, juntamente com Sippie Wallace, a fazer a transição dos humildes prostíbulos e clubes onde se apresentava para a ribalta internacional. Ela se tornou parte da era do jazz, e deu a Bessie Smith uma de suas composições, ‘Downhearted Blues’. Ela cantou em prostíbulos e cantou para Al Capone e para Eisenhower. Ela viajou o mundo, cantou em Londres e gravou com Louis Armstong e Duke Ellington. Então, ela desapareceu da música e trabalhou como enfermeira durante vinte anos atendendo a pacientes que não tinham idéia de quem ela tinha sido.

Alberta desafia qualquer categorização e sua longevidade como artista popular é igualada por poucos. Com oitenta anos ela encenou um retorno impressionante à música deixando sua marca como cantora de jazz e blues para multidões e com quatro novos álbuns antes de sua morte. Uma mulher incrível. Gravou ‘Amtrak Blues’ com 83 anos. A música ‘My Handy Man’ com Alberta, em comparação com a versão de Ethel Waters em 1920, é pura diversão. Sim, Alberta era uma mulher muito velha quando gravou este álbum e ainda assim desfrutou completamente de si mesma e cantou sobre sexo com dignidade e credibilidade. Este álbum é uma jóia absoluta. Sua voz está até melhor do que em 1920. Uma voz que eu prefiro, áspera e de personalidade mundana que ela adquiriu ao longo dos anos.

alberta hunter

Alberta Hunter (terceira da esquerda para direita) foi uma das dezenas de cantoras que floresceram em casas noturnas na década de 20. Ela garantiu sua sobrevivência profissional, de forma realista e sem medo.

alberta hunter

Quando ‘The Glory of Alberta Hunter’ foi gravado, Alberta Hunter tinha 87 anos e estava desfrutando de seu renascimento como artista. Grande sobrevivente da década de 20, Alberta estava, de algum modo, persuadida a retornar ao estágio em que se tornou grande estrela da vida noturna de Nova York. Neste álbum, apoiada por grandes músicos, Alberta está claramente se divertindo. Curiosamente ela não era tão interessante quando mais jovem em comparação com pesos pesados da época, mas a idade lhe deu a liberdade do charme que não tinha antes. Basta ouvir como ela termina ‘I've Had Enough’: ‘And if I never see you again brother...good bye, sayonara, au reuvoir, see ya see ya, auwiedersehn, hasta la vista…’. Rindo de si mesma é uma despedida rancorosa de uma amante. Ou em ‘Sometimes I'm Happy', batendo palmas e incentivando os músicos como se eles estivessem na casa dos 80 anos e não o contrário. Impossível não gostar.

alberta hunter 2Alberta nasceu em Memphis. Seu pai abandonou a família quando ela nasceu, e sua mãe tornou-se o ganha-pão trabalhando como empregada doméstica em um bordel. E Albeta passou a infância entre uma mãe rigorosa, que lhe ensinou a ser auto-confiante e respeitar a si mesma, e uma avó que viu nela potencial e o desejo louco de viajar. Sua educação musical precoce veio de sua exposição às bandas de blues da Beale Street. Quando W.C. Handy veio a Memphis com seu blues em 1905, Alberta correu para ouvir. Aos dezesseis anos, ela fugiu para Chicago e foi descascar batatas em uma pensão. Cativada pela vida noturna da cidade, começou a se apresentar em bordéis e clubes. Sua estréia profissional foi no clube ‘Dago Frank’, um lugar freqüentado por bandidos. Alberta permaneceu ali por dois anos e só saiu depois que o clube foi fechado. Sua mãe se juntou a ela em Chicago logo depois. As duas desenvolveram a política do ‘não pergunte, não diga’ para que não fosse discutido a sua homossexualidade ou os problemas conjugais de sua mãe. E ela foi cantar em clubes um pouco mais respeitáveis. Em 1915 ela estava cantando no ‘Panama Café’, um clube da moda que servia a clientela branca. Este lugar também foi fechado depois de um assassinato.

Em 1919 era celebridade em Chicago, e começou a prestar mais atenção à sua imagem. Nessa época havia poucos artistas abertamente homossexuais, e cantores de blues e jazz eram obrigados a ostentar a falsa heterossexualidade e Alberta não foi exceção. Casou-se com o garçom Willard Saxby Townsend do clube onde cantava, mas o casamento nunca foi consumado. Dois meses depois Townsend pediu o divórcio que só foi concedido em 1923. E Alberta Hunter já estava morando em Nova York com o grande amor de sua vida, Lottie Tyler, sobrinha do comediante americano Bert Williams. Em 1927, ela e Tyler embarcaram para Paris, onde Josephine Baker já era uma estrela. Foi uma oportunidade para escapar do racismo e preconceito norte-americano e se tornar reconhecida por seu talento. No entanto Paris foi também onde ela rompeu com Tyler, que se tornaram boas amigas depois. Em 1928, sem Tyler, que tinha retornado aos Estados Unidos, Alberta deixou Paris e foi para Londres.

Sua primeira aparição profissional em Londres, dois dias depois que ela chegou, foi no Picadilly Circus. Depois de um breve retorno a França, para abrir o ‘Cotton Club’ de Paris retornou aos Estados Unidos em 1929. Se ela pensou que o seu sucesso absoluto em Paris e Londres seria suficiente para abrir as portas nos Estados Unidos ela estava enganada. A depressão econômica mantinha as pessoas longe das casas noturnas. Em 1934 ela foi para Copenhagen, na Dinamarca. E novamente para Londres. Quando a segunda grande guerra estourou e Paris caiu nas mãos dos nazistas, artistas negros retornaram a Nova York, fazendo com que a concorrência por empregos fosse muito aguerrida. Adicionando a isso surgiu uma nova geração de cantoras liderada por Ella Fitzgerald, Billie Holliday, e Lena Horne. E a carreira de Alberta esfriou.

alberta hunterImperturbável ela encontrou uma nova carreira, cantando para os soldados americanos na Segunda Guerra Mundial como membro do ‘United Service Organizations’ (USO). Experimentou um ataque aéreo e em teatros se apresentou para o general Eisenhower, o marechal Montgomery e Marshal Zhukov. Mais tarde continou a entreter os soldados durante a Guerra da Coréia. Alberta Hunter saiu do show business por duas décadas a partir de 1956, e foi trabalhar como enfermeira em um hospital na cidade de Nova York. Ela somente quebrou a rotina em 1961, a fim de gravar um álbum com seus velhos amigos Lovie Austin e Lil Hardin Armstrong. Nenhum de seus pacientes ou colegas de trabalho do hospital tinha a menor idéia de quem ela era ou quão famosa ela tinha sido, e Hunter preferiu dessa maneira. Aposentou-se como enfermeira em 1977, e em 1981 estava pronta para voltar à estrada. Gravou quatro discos incluindo o extraordinário ‘Amtrak Blues’, que para muitos jovens fãs são os registros definitivos de Alberta Hunter. Curiosamente, estes mesmos fãs têm pouca paciência para o seu doce e precioso cantar dos anos 20, e pouca tolerância para o seu trabalho nos anos 30 com Jack Jackson. No entanto, todas as gravações de Alberta são interessantes e importantes para o jazz e o blues. Ela continuou a se apresentar quase até o fim. Em Denver, no verão de 1984, ela finalmente decidiu que não podia mais continuar e voltou ao seu apartamento em New York. Alberta Hunter faleceu pouco depois.

alberta hunter - amtrak blues (1978)    alberta hunter - the glory of alberta hunter (1982)

Amtrak Blues (1978)     |     The Glory of Alberta Hunter (1982)

Tracklist: Amtrak Blues
01. The Darktown Strutters' Ball 02. Nobody Knows You When You're Down And Out 03. I'm Having A Good Time 04. Always 05. My Handy Man Ain't Handy No More 06. Amtrak Blues 07. Old Fashioned Love 08. Sweet Georgia Brown 09. A Good Man Is Hard To Find 10. I've Got A Mind To Ramble

Tracklist: The Glory of Alberta Hunter
01. Ezequiel Saw The Wheel 02. I’ve Had Enough (Alberta’s Blues) 03. Wrap Your Troubles In Dreams 04. Some of These Days 05. The Glory of Love 06. You Can’t Tell The Difference After Dark 07. I Love You Much Too Much 08. I Cried For You 09. The Love I Have For You 10. Sometimes I’m Happy 11. Give Me That Old Time Religion

downhearted blues (1981)    look for the silver lining (1982)

Downhearted Blues (1981) Live     |     Look for the Silver Lining (1982)

Tracklist: Downhearted Blues
01. My Castle's Rockin' 02. The Love I Have For You 03. I Got Rhythm 04. Downhearted Blues 05. Time Waits For No One 06. I'm Havin' A Good Time 07. Two-Fisted Double-Jointed Rough And Ready Man 08. The Sarktown Strutter's Ball 09. Sometimes I'm Happy10. I've Got A Mind To Ramble 11. Old Fashioned Love 12. You Can't Tell The Difference After Dark 13. Remember My Name 14. When You're Smiling (The Whole World Smiles With You) 15. Georgia On My Mind 16. Handy Man 17. Never Knew My Kisses 18. You're Welcome To Come Back Home

Tracklist: Look for the Silver Lining
01. Without Rhythm 02. Look For The Silver Lining 03. Now I'm Satisfied 04. Georgia On My Mind 05. J'ai Deux Amours 06. Black Man 07. He's Funny That Way 08. Somebody Loves Me 09. On The Sunny Side Of The Street 10. Somebody Told Me So

‘Alberta Hunter with Lovie Austin and Her Blues Serenaders’ é notável por duas razões principais. Ele encontra Alberta Hunter, que havia se aposentado da música em 1954 para se tornar enfermeira, e em 1961 gravou este álbum com seus velhos amigos Lovie Austin e Lil Hardin Armstrong. E está no auge da sua forma nas músicas ‘St. Louis Blues’, ‘Downhearted Blues’ e ‘You Better Change’. Além disso, a gravação é com a pianista Lovie Austin e seu quinteto ‘Austin’s Blues Serenaders’. Lovie Austin era uma figura popular do jazz de Chicago em 1920 e na cena do blues. Ela era freqüentemente vista correndo pela cidade em seu Stutz Bearcat com estofos de pele de leopardo. Seu início de carreira foi no vaudeville, onde tocava piano acompanhando muitos dos cantores clássicos do blues da década de 20, como Ma Rainey, Ida Cox, Alberta Hunter e Ethel Waters. A canção ‘Down Hearted Blues’ de sua autoria foi um grande sucesso de Bessie Smith.

Alberta Hunter with Lovie Austin and Her Blues Serenaders (1961)

Alberta Hunter with Lovie Austin and Her Blues Serenaders (1961)


Personnel: Alberta Hunter (vocals); Lovie Austin (vocals, piano); Jimmy Archey (trombone); Darnell Howard (clarinet); Pops Foster (bass); Jasper Taylor (drums)
Tracklist: 01. St. Louis Blues 02. Moanin' Low (Alberta Hunter) 03. Downhearted Blues (Alberta Hunter) 04. Now I'm Satisfied (Alberta Hunter) 05. Sweet Georgia Brown (Lovie Austin) 06. You Better Change (Alberta Hunter) 07. C-Jam Blues (Lovie Austin) 08. Streets Paved With Gold (Alberta Hunter) 09. Gallon Stomp (Lovie Austin) 10. I Will Always Be In Love With You (Alberta Hunter)

‘Young Alberta Hunter: The 20's and 30's’ é uma compilação e é vitrine de seu sucesso inicial, é apenas uma curiosidade do quanto ela evoluiu no mesmo período. De todas as divas do blues em 1920, Alberta Hunter era a única que correspondia a Ma Rainey e Bessie Smith, todas as outras eram apenas imitações.

Young Alberta Hunter: The 20's and 30's [1996]

Young Alberta Hunter: The 20's and 30's (1996)

Tracklist
01. You Can't Tell The Difference After Dark 02. Second Hand Man 03. Send Me A Man 04. Chirpin' The Blues 05. Downhearted Blues, 1939 06. I'll See You Go 07. Fine & Mellow 08. Yelpin' The Blues 09. Someday Sweetheart 10. The Love I Have For You 11. My Castle's Rockin' 12. Boogie Woogie Swing 13. I Won't Let You Down 14. Take Your Big Hands Off 15. He's Got A Punch Like Joe Louis 16. How Long, Sweet Daddy, How Long? 17. Down Hearted Blues, 1922 18. Gonna Have You, Ain't Gonna Leave You Alone 19. You Can Have My Man If He Comes To See You, Too 20. Bring It With You When You Come 21. Nobody Knows The Way I Feel Dis Mornin' 22. Early Every Morn 23. I'm Going To See My Ma

alberta hunter - always



tags:
publicado por mara* às 06:36 | link do post